1.
Fiz a primeira avaliação de bioimpedância um mês depois de ter começado minha reeducação alimentar. Não tenho como comparar se perdi algum percentual de gordura do meu corpo nesse tempo, mas o tom de voz da fisioterapeuta quando leu as porcentagens na balança deu a dica. Foi de uma surpresa positiva meio pontinha de inveja, que para mim serviu como um sinal de que eu estava fazendo alguma coisa certa.
Isso é uma novidade na minha vida — eu achar que estou fazendo a coisa certa — ainda que sob a avaliação de outra pessoa.
É que não é difícil a boa opinião alheia quando se vive em função de ser aprovado. Depois de alguns anos de prática, você acerta o tempo todo. Mas isso nem sempre significa que será feliz. O difícil mesmo é saber o que, dentre tantas vontades de ser, é genuíno seu e não projeção dos outros. Quando você sabe, e isso dá certo, é como se o sol saísse de trás da nuvem.
Nos últimos anos eu tenho feito tudo errado, como que Saturno vivesse em eterno retorno e eu já vou fazer 34. Chegando aos 29, percebi que o caminho que eu tinha escolhido e suado não levava aonde eu realmente queria ir, e até hoje não tive a coragem de mudar de rota. O medo de não ganhar dinheiro, de ser reprovada pela senhora minha mãe, de ser ruim no que me propor a fazer e dessa nova trilha me levar para lugar nenhum me deixa estacionada.
Então, ter uma meta tipo distração e me saber estar chegando cada dia mais próximo dela, mesmo que a minha meta de vida continue em suspenso, fez eu sentir a sensação ilusória de que bateu por aqui um raio de sol.
2.
Poucas coisas causam felicidade instantânea quanto uma mordida de bolo de chocolate amargo seguida de um gole de café com leite. É uma explosão. E se você estiver sentada na cafeteria de uma livraria, então, é uma bomba atômica.
POV: Você chegou na livraria, folheou os livros que te interessaram, pegou um para ler o primeiro capítulo, sentou na mesa mais escondida e fez o seu pedido. A torta e o café chegaram logo depois que o narrador fez uma tirada engraçada, deixando você com vontade de levar o livro para casa. Com o canto de boca arqueado, rindo sozinha por dentro, você dá a mordida e toma o gole. Pronto, pode acabar o mundo.
3.
Ultimamente tenho visto muitos vídeos de viagens por Tokyo, Kyoto e outras cidades que não sei o nome, produzidos por um casal japonês criativo. Os vídeos não mostram os rostos de ninguém, só às vezes vemos o perfil dos dois de longe. Ela tem um cabelo liso e curto e ele usa rabo de cavalo e cavanhaque, tipo samurai. Se alguém os visse andando juntos na rua, reconheceria, mas não separados. Eles fazem parte de uma tribo esquisita que gosta de preto e roupas largas, e acreditam que saias não são coisa de gênero — me identifico.
A vida deles é repleta de museus, lojas de antiguidades, restaurantes japoneses, cafés e outros lugares sempre tão limpos e bonitos, que passo horas inebriada no desejo e no prazer de vivenciar aquela realidade. Aquela estética Wes Anderson meets Japandi me engoliu e é ali onde eu quero morar.
4.
Tive que me consultar com uma médica de clínica geral para uma nova solicitação de terapia, para comprovar ao plano que ainda preciso de tratamento e, nesses três anos, foi a primeira vez que alguém me perguntou sobre depressão. A ficha caiu devagar porque foi uma pergunta velada: “mais algum episódio de depressão em sua família?”; e aquilo me fez parar um pouco. É verdade… eu tive depressão. É verdade… se eu não cuidar de mim, corro risco de voltar ao buraco. É verdade…
5.
O que devo fazer para viver feliz?
Ouvi essa pergunta enquanto procrastinava o trabalho no Youtube, assistindo a minha atriz coreana favorita responder a comentários da internet. Ela me pareceu tão legal e resolvida. Fiquei tentando pensar no que eu mesma deveria fazer para viver feliz e só me veio esse textinho de ideias bobas.
Deixar isso aqui inteligível me deixaria feliz. Se ele fosse um pouco engraçado, eu ganharia bônus. Se alguém o validasse com um like, surgiriam uns raios de sol detrás do computador e eu daria uma risadinha imaginando se conto ou não vantagem na terapia da próxima quinta-feira.